O espremedor de batatas

Outro dia fui fazer um purê e fiquei amassando as batatas com a colher de pau, mas elas ainda não estavam no ponto bom para serem amassadas. O certo seria cozinhá-las mais um pouco, mas eu estava com pressa para o almoço sair e insisti na força manual com a colher na própria panela. Sem sucesso, olhei para o mixerque estava perto de mim e pensei “por que não?”, enfiando-o logo na panela mesmo, para chegar no ponto de purê. Então entendi porque não se processa a batata cozida: o resultado foi uma papa pegajosa, que imagino que deva ter ficado assim pelo amido liberado na quebra das células da batata. 

 Perdi o purê e me lembrei do espremedor de batatas de alumínio da casa da minha mãe, daqueles que a batata passa pelos furinhos e sai se contorcendo em várias tirinhas do outro lado. Não entendi porque eu não tinha um desses em casa. E pensei que, mais do que ter o espremedor de batatas na minha casa, eu queria ter alguém que fizesse o meu purê de batatas hoje. Só o purê, só hoje. 

E então pensei na minha mãe, que está em casa sozinha há tantos dias sem alguém pra dividir a mesa com ela. Como eu queria cozinhar pra ela, almoçar com ela, rir da minha gororoba de batatas que não foi à mesa, mas que provocaria um ataque de risos de doer a barriga, como já aconteceu com tantas outras bobagens na nossa intimidade de mãe e filha.   

Não sei quando vou poder encontrá-la, abraçá-la, fazer um purê de batatas na cozinha dela, mas ela precisa saber que sinto muito a falta dela. Decido ligar pra ela mais tarde. Antes, penso no que fazer com as batatas processadas e me lembrei da “Madalena” que a minha sogra fazia, uma receita que basicamente leva purê e carne moída ao forno. Quando ligo para a minha mãe, conto a história toda e ela me mostra o espremedor de batatas do outro lado da câmera, para se certificar de que era o mesmo que eu estava querendo. Sim, era exatamente aquele. E então ela promete me dar um na próxima vez que nos encontrarmos. Presente do encontro pós Covid-19.

No jantar, meu marido teve a doce lembrança da mãe através da receita de forno com o purê e meus filhos conheceram a comida preferida dele na infância. A conversa não parou por aí e ele contou mais sobre a mãe e as brincadeiras de quando era criança. A vasilha terminou vazia, o coração cheio. E o espremedor de batatas? Estará me esperando na casa da minha mãe, junto com o abraço demorado que quero ganhar quando nos encontrarmos. 

 

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